domingo, 30 de junho de 2013

Um sorriso

Aquele sorriso faltava alguns dentes, mas mesmo assim insistia em permanecer naquela face e estava me constrangendo. Contei até dez para não dar um murro destruidor de sorrisos. Mas não o fiz, não por ser uma pessoa pacífica, mas por medo daquele sorriso infeliz persistir e roubar mais ainda a minha alegria.

Tentei fechar os olhos, já era tarde. O som quase silencioso tinha tomado conta de mim e com ele a repulsa: maldito sorriso faltando dente, nojento! Qual seria motivo para tamanha resiliência?

Passei a desejar, conscientemente, uma dor de dente, em algum que sobrou. Qual riso resistiria a uma dor tão específica? Estava convencido que isso seria uma coisa boa e me deliciava ao imaginar aquele sorriso desmoronando em sofrimento.

Acordei do meu devaneio e notei que meu algoz persistia. Cansei de lutar, cheguei ao seu portador e pedi um cigarro. Fui atendido prontamente com um riso rasgado ausente de incisivos. Peguei minha pistola e disparei três vezes, ouvi o baque surdo do corpo ao chegar ao chão, ostentando um belo sorriso, o mais lindo de todos.

Tentei disparar no rosto, mas não havia bala no tambor. Saí, trajando aquele sorriso, dessa vez, cheio de dentes.

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